Almas puras, sem conhecimento de
maldade, corrompidas por uma criança de índole maquiavélica. Dar nomes às
coisas faz delas reais. Hoje em dia intitula-se de bullying a tudo e este
uso em demasia faz com que as verdadeiras vítimas não sejam ouvidas. Uma criança
usa o escorrega ao contrário e enterra a cabeça na lama, um petiz grita do
baloiço: “otário”. Pumbas bullying! Não! O petiz à distância é um
observador sagaz, tem um vocabulário de louvar para alguém de 6 anos e apenas
constata um facto.
Há pessoas que realmente sofrem
de bullying na sua infância ou adolescência, mas sejamos realistas,
muitas vezes nem sabemos destes casos até ser demasiado tarde. A sua gravidade
faz com que os jovens tendam a calar-se. Esta crónica (para parecer que tem
classe), é dedicada a todos os pais excessivamente protectores, que se esquecem, que uma criança aprender a defender-se faz parte do seu desenvolvimento
enquanto pessoa. Se protegemos sempre uma criança como se fosse uma jóia da
coroa, vai achar-se a última coca-cola do deserto e, quando for grande, mais
lhe vale que tenha uma boa herança e possa ficar em casa a fazer comentários de
ódio no Youtube, porque não estará pronta para o mundo cão que há lá fora.
As vossas crianças podem ser
lindas, ter os olhos do pai e o bigode da tia, mas não são especiais. Temos de
proteger a nossa descendência de maneira inteligente, ensinar-lhes como viver
em sociedade, defender-se e proteger-se. Criar um ser humano forte e não o
tratar como o Dumbo (a menos que voe com as orelhas, nesse caso, acho bem que
façam algum dinheiro da criança).
Vinde comigo fazer uma visita a
um passado não muito distante (gosto de me convencer disso). De pequena, como a
muitas crianças, chamaram-me nomes e havia um energúmeno mal-educado que me
batia (hoje o pobre Luís Miguel ainda deve viver na cave da sua rica mãezinha e
ser o orgulhoso proprietário de um dente na boca). Muitas foram as vezes que
cheguei a casa a chorar. Com a orientação dos meus pais, aprendi a não ligar
aos nomes e ignorar, pois sabia o meu valor e responder era alimentar esta prática. Até que
se cansaram e as ofensas gratuitas acabaram. Funcionou! Mas o Luís Miguel, raio do puto levado da breca não
desistia de me marcar com nódoas negras. A minha mãe falou com a professora,
falou com a mãe da criatura, um dia parou o carro à frente do dito e mandou-lhe
três berros (momento mais emocionante da minha vida!), mas o neurónio não lhe
dava para tanto e o Luís Miguel não percebeu. Então um dia a minha mãe deu-me o
aval de me defender e de se ele me batesse, eu tinha a sua bênção para lhe
responder na mesma moeda. Que dia tão bonito esse. Ponhamos as coisas assim: foi o fim de uma era. Descobri que era bruta que nem uma porta.
A minha geração foi alimentada
pela violência e estamos todos frescos que nem alfaces! As músicas de pátio
tratavam de maltratar gatos com paus e a mítica música “Dominó”, falava de uma rua que cheirava a sangue porque alguém se tinha matado. [Já que falamos do
assunto, se alguém souber por que raio ficávamos no “coito” para estar a salvo
a jogar à apanhada, agradecia o esclarecimento]. Quando estava no ensino básico
apareceram os Happy Tree Friends, que, para quem não sabe, eram animais amorosos
que explodiam, lhes saltavam olhos e morriam de diversas formas sombrias e detalhadamente gráficas. Isto
(não) ajudou (em nada) a vermos a morte como algo natural e divertido.
A realidade é que, actualmente,
lidamos com as crianças como pequenas bolas de algodão, que se podem sujar se as
pousamos em algum lado. Temos de criar futuras gerações fortes, porque os millennials
são todos carne para canhão se há um apocalipse zombie. A geração dos nossos
avós viu de tudo! Há alguns um bocado afanados das ideias, mas no geral são
pessoas normais. Não tenham medo de expor as vossas crianças a este mundo
fascinante.