terça-feira, 14 de abril de 2020

O Preço da Arte

A 28 de Dezembro de 1895, no Salão Grand Café, em Paris, os irmãos Lumière partilhavam com trinta privilegiados, os frutos do seu trabalho. Deram-se, assim, os primeiros passos da recém-nascida Sétima Arte. A utilização de numeração surgiu da crença que não iríamos estagnar e, em coisa de dias, surgiriam inúmeras outras artes (mas aqui se reflectem os efeitos de crianças a snifar cola durante tantos anos). Nos dias que correm são 11 as “Artes” (alguns, metem à pressão outras duas para justificar o seu estilo de vida artístico, frequentemente referido como: desemprego), sendo, a décima, os videojogos. Afinal, todos vocês têm artistas em casa e não sabiam. Quantos Mozarts dos videojogos terão perdido a sua oportunidade, à conta da sua rica mãezinha, sem sensibilidade alguma e preocupada com frivolidades, como dormir ou mover os membros inferiores a ver se ainda são funcionais.

Foquemos-nos no importante: a Sétima Arte. Actualmente, de tão fácil acesso, mas ainda com a vertente de luxo, que é ir ao cinema. Fazer uma chamada ao vosso gestor de banco é recomendável, antes de desfrutar de um filme num espaço compartido com desconhecidos, onde temos de sincronizar a nossa bexiga com o momento incerto do intervalo. As entradas, mesmo em lugares que seriam equivalentes ao porão do Titanic, são de preços elevados. Porém, ninguém vai ao cinema sem comprar as típicas pipocas e bebida para acompanhar, disponíveis em vários tamanhos, desde “Já acabaram e ainda nem começou o filme”, até “Vou levar os restos para casa e temos pipocas até ao Natal, mas na realidade só duram uma semana, até meterem nojo e começarem a ganhar cores e consistência duvidosa, e irem parar ao caixote do lixo, enquanto gritamos que para a próxima já sabemos”. Estas, podem ser compradas em combos poupança como os intitulam, ou, facilmente, intercambiáveis na bilheteira, pelo seu rim ou descendente varão primogénito.

A realidade, é que uma ida ao cinema pode ser um investimento perdido, pois não depende apenas de nós o desfrute de tal serão (se pagaram para ver um filme do Vin Diesel, já estavam a pedir desgraça, não se queixem). Há toda uma panóplia de personagens secundários, que por muito vazio que esteja o cinema, eles aí estarão, como que se contratados pelo cinema para criar ambiente. O espectador que insiste em cegar-nos com a luz do seu telemóvel a cada 10 segundos, enquanto verifica se o mundo não ruiu sem a sua participação activa; o que para poupar em pipocas enfiou pacotes de batatas e doces em todos os orifícios e passa o filme a vasculhar os bolsos, sacudir o casaco e explodir pacotes de batatas, como se fosse apanhar as batatas de surpresa e estas não tivessem tempo de fugir e deixar meio pacote vazio; o que insiste em dar o seu parecer ao actor do outro lado do ecrã, avisando-lhe cada vez que o assassino está perto e, genuinamente, irritando-se quando o Tom Hanks não ouve os seus conselhos; o que (por não sabermos, convidámos, mas, se são espertos, nunca mais) gosta de relatar o filme como um jogo de futebol…estamos a ver o mesmo ecrã, ao mesmo tempo, mas nada o impede de explicar o que está a passar como se tivéssemos a actividade cerebral de um repolho… e sim, vi aquilo, sim! Aparte deste grupo de indivíduos, a entrada a pessoas sensíveis deveria ser interdita. Ir ao cinema deveria ter certas provas de aferição, onde pessoas que mostrassem sentimentos através de sons, como, “awww” ou fungar em voz alta, automaticamente, não só não entrariam, como não teriam reembolso do bilhete para aprender. Aguentar alguém, atrás de nós, durante duas horas, a guinchar num filme de terror e sorver macacos num drama, é mais aflitivo que dar com o mindinho do pé na esquina da cama.

O cinema perfeito é em casa, com possibilidade de comer alegremente sem chatear ninguém, parar vinte vezes porque a incontinência é algo que vem com a idade, mudar de filme aos cinco minutos de mau que é e ter acessível uma almofada para abafar os ronquidos da companhia.


22 comentários:

  1. Ahhh...! Muito bom! Como sempre. Já me estava a coçar todo, como a pessoa que ressaca na falta de um post teu!

    Mas então não sou só eu que acho uma exorbitância o preço dos bilhetes e das outras parvoíces que muita gente agrega ao acto de ir ao cinema?
    Pensei que era defeito meu por ser pessoa forreta desde pequenino. :)

    Excelente post.
    Obrigado :)

    Beijinhos sem pipocas nem roncos *************

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Oh cosa má linda ele pah!! Pensei em não meter nada nestes dias da Páscoa porque pensei que me denunciaria como a única portuguesa sem tradição alguma para a época xD
      Não...não és só tu...és forreta, mas eu também!

      Obrigado eu por aturares os meus posts =D

      Beijinhoooo

      Eliminar
    2. Podemos considerar tradição os euros que a 'afilhadagem' me sacou? Se a tradição é isso, a minha foi cumprida ;)

      Eliminar
    3. Acho que é tradição sim...tão bommm ter afilhadagem!
      É a vantagem do imigra...ninguém te quer como madrinha de nada xD

      Eliminar
    4. Por outro lado os emigrantes são ricos e quando regressares vais ter uma dezena de potenciais afilhados!! XD

      Eliminar
    5. Não andas a conhecer os mesmos imigrantes que eu xD
      O tempo do avec que vai a portugal de BMW e chama o Jean Pierra antes que ele tombé e parta o focinho...é de outros tempos

      Eliminar
    6. Escreves isso no teu iPhone de última geração, enquanto comes umas torradas com caviar antes do jantar.
      Sei...:p

      Eliminar
    7. Pronto...eu estava a tentar manter as minhas economias em privado, mas sei que o header do meu blog feito no paint me denuncia como alguém cheia de bens...vou agora afogar as mágoas com as redes sociais através do meu iphone

      Eliminar
  2. Adoro ir ao cinema, mas acaba por ser algo que faço com pouca frequência. Independentemente disso, é uma experiência social inacreditável: encontramos cada personagem que nem é bom ahahah

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Se os preços fossem mais acessíveis acho que iríamos todos mais vezes...eu amooo ir ao cinema e custa-me não ir mais.
      Só não quero chegar ao tempo em que a Netflix seja tudo o que temos

      Eliminar
  3. Espreita as obras de arte da esposa do Larry Kudlow

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. O que me foste fazer ver...aiii como é bom ser rico e que se considere cada lenço com que assoas o nariz arte...aiii que dor!

      Eliminar
  4. Tenho tantas saudades das minhas escapadelas ao cinema à hora do almoço com as salas quase vazias....

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Eu fazia o mesmo quando tinha horários com buracos de 4h no meio...já lá vai o tempo...mas eram cinemas vazios sempre =D

      Eliminar
  5. Já não ponho os pés num cinema há uma data de tempo.
    Da última vez que fui, foi para ver o Frozen II com a Bolachita. E só faço o esforço de a acompanhar porque o pai dela é que paga os bilhetes. :D

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. O que interessa é a vista empreendedora da coisa...se alguém paga eu estou lá pronta para ver o que quer que seja! =P

      Eliminar
  6. Nestes dias acho que todos recorremos a esta sétima arte, é o que nos safa e bem :)

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Estamos todos a sugar a sétima arte como se dependêssemos disso =P

      Eliminar
  7. Gosto muito de ir ao cinema, é diferente ver um filme em écran gigante.
    Mas, infelizmente é um hobbie que tenho deixado de parte.
    Beijinho

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. É um hobbie que todos temos deixado de parte e é uma pena...porque todos gostamos tanto do bom do cineminha =)
      Beijinho

      Eliminar
  8. Não sei que cinemas frequentas ;) obviamente que não estás a escolher bem! Nos que eu vou não tenho felizmente toda essa fauna e pelos vistos não perco nada. Adoro ir ao cinema e não troco por cinema em casa.

    ResponderEliminar