“Se deus te assinalou, algum defeito
te encontrou”
A frase motivacional que moldou a
minha existência. Soa a um mero trocadilho amoroso quando proferido com olhos
carinhosos e num tom de voz terno de uma avó alentejana. Com 5 anos era um
pinhão com olhos que gostava de tudo o que rimava, sem desejo de indagar o porquê
detrás de deus ter embicado comigo e muito menos, sendo o criador, decidir usar-me
como rascunho.
Divindades à parte, culpo inteiramente
os meus progenitores por tamanha incapacidade de decidirem uma cor de pele e se
terem centrado nela, durante o meu fabrico. Está para nascer o dia em que a
minha mãe se decida entre uma cor e não compre toda uma colecção, em todos os
tons existentes (sejam camisolas ou tinta de parede). Como ter um filho de cada
cor seria uma carga de trabalho, cá estou eu, este dálmata que não sabe truques. Dirão vocês, terá leves sardas
colocadas harmoniosamente por baixo dos olhos, exagerada! Não. Sou aquele jogo
de juntar os pontos, sem interesse algum, não apropriado para os vossos filhos,
do qual vocês vão desistir antes de chegar ao sinal que tenho debaixo da unha.
Anos a ponderar em que
significariam tantos sinais. Tenho consciência da minha incapacidade de fechar
casacos de fecho-éclair sem ficar sua prisioneira. Não sei respirar (o pior super-poder alguma vez visto), falo depressa para conseguir gerir informação entre "arfanços",
senão morro e terei direito à lápide mais depressiva de sempre: “morreu porque
se esqueceu de inspirar”. Não achei o filme Parasite a última coca-cola do
deserto. Consigo pensar em mais uns quantos, mas não me dá para tanto.
Concluo deste modo, que nem todos os trocadilhos e frases feitas têm sentido. Já devia ter suspeitado, afinal de contas a minha avó também repetia incessantemente, “7 e 7 são 14, com mais 7, 21. Tenho 7 namorados e não gosto de nenhum” e a senhora tinha uma agenda cheia, não tinha cá tempo para tamanha rebaldaria.