“Ó gente da minha terra
Agora é que eu percebi
Esta tristeza que trago
Foi de vós que recebi”
Eu sei que está estabelecido na constituição da república portuguesa que um indivíduo depois de registado em território nacional tem de se tornar alguém emocionalmente perturbado e que defina na perfeição a palavra “saudade”. Eu fui registada na margem sul do Tejo e isso pode ter acarretado alguma interferência no processo. Fiz as malas e entre abraços, lágrimas e chamadas de atenção aleatórias, como os cuidados a ter ao congelar frango, ninguém me explicou qual seria a altura certa para começar a ter saudades.
Haverá um momento, em que ouvir fado abraçada a uma estátua de plástico luminosa de Fátima, enquanto faço um altar a um pastel de nata será, certamente, apropriado. Já lá vão 6 anos desde que sai de Portugal e tenho saudades constantes, uma moinha chata que está sempre lá, aquela vontade de receber o colo de mãe depois de um dia mau e de ir comer àquele restaurante que é o teu favorito desde os 5 anos de idade. Não obstante, ainda não tive uma recaída dramática.
Eu não gosto de surpresas. Da mesma maneira que não gostaria de ter um ataque de cólicas a meio de uma entrevista de trabalho, também não gosto da ideia de ser atingida pelo conceito de saudade em todo o seu esplendor, quando estiver num momento de loucura íntima. Transitando, fugazmente, de um encontro romântico a um momento de terapia em que estarei enrolada em mantas com rímel e baba a escorrer queixo abaixo, enquanto o Juan Carlos tenta sair pela janela sem partir o pescoço.
Sou uma mulher adulta e independente! Que pode desmoronar entre lágrimas e soluços, em posição fetal, encostada a um canto da sala, abraçada à fatia de pão alentejano restante, enfiada na mala durante a última visita. A essência está, em que ninguém presencie tal momento decrépito. Tirando o meu vizinho, que já se queixa que eu ando com demasiada força, se um dia eu choro ele chama os bombeiros.
Revelar a existência de saudade é, garantidamente, ter num par de horas a nossa mãe à porta de pantufas (e máscara), para nos levar de volta para o nosso país (ao colo). Se raramente nos expressamos, a probabilidades é de nos rotularem de insensíveis e adoptarem um labrador para colmatar a nossa ausência (eu fui substituída por dois gatos).
O meu nível de comunicação actual parece estar a manter o padrão necessário para que não mudem a fechadura de casa sem me avisar. Para os interessados no ritual, passa por proclamar palavras aleatórias num tom arrastado e melancólico, mescladas com sons imperceptíveis (se alguma vez foram à matança do porco da aldeia, sigam a nota do porco), que passam rapidamente da temática emocional à física quântica. Podem declarar-vos doentes mentais, mas não duvidarão do vosso amor.
A saudade dá mesmo cabo do nosso coração! Por um lado, é boa, porque só a sentimos por quem nos fez/faz bem, mas, por outro, desarruma-nos por dentro
ResponderEliminarSaudade é uma dor de cabeça! Sabe bem ter, porque significa que algo importa, mas ao mesmo tempo preferia não a ter =/
EliminarAndo desejoso de voltar a Portugal, de finalmente experimentar a casa que comprámos em Gaia.
ResponderEliminarSaudade?
Sem sombra de dúvida.
Bfds
Tão bom casa em Gaia! Espero que possas ir em breve!
EliminarTambém espero poder dar lá um pulinho.
Bom fim de semana!
Uma publicação brilhante! AMEI!
ResponderEliminar.
Deambulo no baú dos sentimentos ...
Beijo e uma excelente Sexta Feira
Obrigado Cidália =)
EliminarEu sou daquelas pessoas que revira os olhos quando ouve todas aquelas teorias, a meu ver, despropositadas e, por isso, injustificadas acerca das saudades e da sua correlação com os portugueses.
ResponderEliminarToda a gente tem saudade em algum momento, digo eu...mas só lhes chamam outra coisa.
EliminarBom fim de semana!
Uma publicação comovente!:)
ResponderEliminar.
Deambulo no baú dos sentimentos ...
Beijo e uma excelente Sexta Feira
Percebo-te, por teres esta forma de te manifestares atão exímia, ainda por cima com uma fatia de pão alentejano pelo meio, mas pela minha prima, que teve que ir para a Alemanha cedo demais, casou e teve que se mudar para Paris e é infeliz (ok, o casamento está em excelentes condições) e fala exactamente como tu.
ResponderEliminarYet, tudo o que me apetece é Espanha, Itália, o Sul de França!
Aiiii a falta que o pão me faaaazzz!!!
EliminarA mim o que me apetece é Portugal =)
Gostei muito desta deambulação pela "saudade". Beijo.
ResponderEliminarObrigado =)
EliminarParece ser o nosso fado.
ResponderEliminarMas, claramente tenho saudades da minha filha que está longe e dos meus,tantos,que já partiram.
Beijinho
A ver se a filhota vai a casa em breve =)
EliminarUm bom fim de semana!
Saudade, essa palavra que também me toca fundo. Ainda na semana passada rumei ao Alentejo, para uns dias (poucos) de acalmar saudades. E é mesmo "aqui" ao lado. Imagine-se quando há milhares de quilómetros pelo meio...
ResponderEliminarSaudade é válida tanto para perto como para longe...por vezes estamos perto e parece mais difícil a coisa =).
EliminarEspero que os dias no Alentejo tenham sabido bem!
De pantufas????? Se forem da benetton ok 🤣🤣🤣🤣. Aiiii que saudades nem imaginas
ResponderEliminarSempre da benetton xD
EliminarQuem já tinha saudades tuas era eu! E chego aqui e vejo um post sobre a "nossa" saudade.
ResponderEliminarPercebo o que dizes, mas acho que saudade mesmo é dos que partiram!
Beijocas e anima-te que o outro lado do tejo está para ficar. Falei com ele à dias e disse-me que não estava a pensar ir de férias para parte incerta. ;)
Aiiii ando cheia de trabalho, nã me dá tempo para vir aqui ao estáminé!!! Tenho que conseguir regularizar mais a coisa.
EliminarEstou desejosa de ir aiiiiiii!!!