quinta-feira, 16 de abril de 2020

Amor: À Direita a 400 Metros

Era uma vez, contavam-se histórias de felicidade, conquista, príncipes e princesas. Histórias que conduziram tantas infâncias e criaram as fundações de muitos, como eu. Com um sorriso no canto dos lábios, recordo as horas investidas nestes contos e pergunto-me o que raio teriam os meus progenitores na cabeça. Fizeram-me crer que é perfeitamente plausível que um príncipe encantado seja um mentiroso compulsivo; beije defuntas que encontra por aí esparramadas, enquanto dá um passeio para esticar as pernas; que um fetiche por pés faz dele interessante; e que ser feita prisioneira por um fulano com acentuada falta de higiene pessoal, é razoável desde que ele seja rico. Depois, perguntam-me o porquê do meu cepticismo quanto ao amor.

O Tinder é uma aplicação criada para encontrar o amor (de umas horas, se tiverem sorte). Eu sempre me acusei como incapaz de, sequer, considerar a possibilidade de usar uma aplicação para encontrar, nem que seja, um engate. Chamem-me antiquada, mas cresci com histórias de princesas com claros problemas psicológicos e vi demasiados filmes de terror. Levar um desconhecido para casa, na minha cabeça, não terminará em algo que não seja o meu desmembramento (e não de uma maneira sexy).

Se uma aplicação vê a necessidade de criar um botão de emergência, isso, devia ser para os seus usuários, uma chamada de atenção vermelha, com holofotes, fogos de artificio e uma senhora gorda a cantar ópera. Mas, vamos assumir, que chegou aquela altura da minha vida em que decido participar activamente no meu homicídio assistido. Acho, que o mínimo que a aplicação podia fazer era facilitar-me a vida, mas não, preciso descrever-me numa frase e encontrar uma foto decente. É mais fácil que Deus fale comigo para construir uma arca! Não tenho experiência nisto! Não sei se com uma frase como “gosto de passeios à beira mar e não ser degolada” ia chamar muito à atenção.

Gosto do amor à moda antiga. Conhecer alguém num local público (testemunhas), onde posso avaliar se tem um tamanho que me permita dar-lhe um KO técnico e fingir que sou doce, ao fazer-lhe umas cócegas em algum momento da conversa, para avaliar se tem pontos fracos e, acima de tudo, se tem uma arma na algibeira (nunca se julguem demasiado boas para um assassino medíocre, nem a todas nos pode calhar um serial killer artístico que não recorre a armas).

Encontrar o verdadeiro amor exige trabalho e atenção aos detalhes. Não há nada como o eliminar de potenciais caras-metade por detalhes fúteis que não admitimos em voz alta, mas nos fazem ver que aquela pessoa não é para nós. Aquela patada na gramática, que repete uma e outra vez como se nos quisesse ver sangrar dos ouvidos, que cordialmente, tentamos corrigir ao repetir bem dito e só nos serve para o ver a dar outro rotativo na boca a Camões; aquele tom de voz agudo acompanhado de um arrastar sopinha de massa; aquela corrente de ouro a sair da farfalheira do peito; ou aquela gargalhada estridente que parece uma morsa em cio. Todos estes exemplos, que partilho dos meus traumas pessoais, em prol da vossa busca pelo amor, foram casos de minutos, sem me desperdiçarem tempo (sem conversa da chacha de cores favoritas, trocas de fotos e intenções, e possível investimento em jantares). Pensem nisso a próxima vez que deslizarem esse dedo para a direita.

Este foi um serviço público do Ministério da Busca do Amor nos Sítios Errados, com apoio do Departamento de Traumas Infantis.

16 comentários:

  1. Vou fazer serviço público também: Ouve o podcast "Tinderella: O Amor nos Tempos do Tinder" no iTunes ou Spotify e vais ficar uma expert no assunto das apps!
    Trust me!!!

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    1. Nunca oiço podcasts...mas vou ouvir sim senhoraaaa!! Aprender não ocupa espaço...nem que seja sobre o Tinder xD

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  2. Já falávamos sobre isso do Tinder no meu cantinho. Tens aqui seguidoras expert na matéria que deverão opinar bem sobre a coisa.

    Eu mantenho: sou demasiado feio, toda mulher arrasta as minhas fotos para a direita. (acho que direita é o "não" e esquerda o "sim", mas posso estar essado.
    O Tinder para mim foi uma experiência falhada. E eu agradeço a Deus por isso. Mesmo sendo Ateu, entenda-se ;)

    Tocas ali num ponto interessante: "Não há nada como o eliminar de potenciais caras-metade por detalhes fúteis que não admitimos em voz alta, mas nos fazem ver que aquela pessoa não é para nós."
    Tal e qual... quantas vezes a pessoa que fantasiámos ser uma potencial "a tal", assim que se senta à nossa frente é excluída quase instantaneamente! ;)

    Beijinhos sem arrastar para o lado **************

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    1. O truque é ter aquela frase catitaaaaa, compensa qualquer má foto (a direita é que gostam a esquerda é que nhé).
      Todos temos aqueles detalhes no sexo oposto que nos metem nervosinhos e funciona para essa pessoa deixar de ser interessante instantanemante xD.
      Beijinho!!

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    2. Conseguiste-me corrigir logo! E mais não usas o Tinder!
      Sei... :p :p :p

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  3. E quais são os sítios certos? Isso é que seria serviço público! :D Muito agradecida.

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  4. Se as pessoas sentem que pode ser uma boa ferramenta, acho que fazem muito bem em apostar neste género de aplicações. É um caminho tão válido como qualquer outro. Eu é que não me identifico tanto a sim :p

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    1. Ahh eu acho muito bem que cada pessoa use os mecanismos possíveis para encontrar o amor...eu cá é que nã sou para isto xD

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  5. corrente de ouro ao peito nã é fixe? isso pode explicar alguns ou nenhuns resultados positivos no tinder... mas eu desisti quando conheci a mulher perfeita e depois ela disse que tinha sido candidata a uma junta pelo cds...

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  6. E a mulher encontrou o homem perfeito.
    E depois foi mudá-lo à sua maneira :)))))

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  7. Eu cá também prefiro o amor à moda antiga :)

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  8. Também gosto à moda antiga.
    Mas cada um é livre para fazer como entender.
    Beijinho

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