O fino salto alto aferrasse ao
soalho, como um metrónomo a marcar o ritmo, sente-se a identidade feminina a
ressoar em cada passo. Giro a cabeça e suspiro exasperadamente, como quem salta
um batimento cardíaco. Aquele corpo de porcelana com medidas perfeitas,
movendo-se com uma harmonia que me faz trautear a Garota de Copacabana. Será
isto inveja ou um teste à minha heterossexualidade? Oiço, então, um cavalheiro a
perguntar-lhe qual a sua graça, respondeu com o tom de voz de um pai natal
ébrio a trabalhar em part time num centro comercial: Joaquim.
Temendo não ter as qualificações
necessárias para o trabalho, tomei a decisão que quero ser uma Drag Queen.
Tenho consciência que o conceito passa por homens que se vestem e actuam como
mulheres e eu sendo uma, poderia ser subentendido como batota, mas quem me
conhece, sabe que a minha maquilhagem tem o traço artístico de um desenho
indecifrável de uma criança de 4 anos (sim, aquele que guardam e fingem que é
lindo, mas por dentro pensam que mais vale que o catraio cresça para ser bonito
ou inteligente, que artista não vai ser) e ando de saltos altos, como uma mula
em andas na calçada portuguesa, a tentar apanhar moedas do chão com a boca.
Mas, atenção, não quero ser uma Drag Queen matrafona que para isso fico quieta,
quero alcançar um nível que faça ambos os sexos duvidar da sua sexualidade, ao
não saberem o que raio eu sou. O suprassumo dos jogos mentais femininos.
São mulheres de tomates. Efectivamente. Anos a melhorar as suas maquilhagens, vestuários e a arte de
levar a genitália colada com fita adesiva entre as pernas, muitas vezes,
durante mais de 10 horas. Eu não consigo nem empurrar a minha hérnia para
dentro, que fique quieta por cinco minutos e estes homens, fazem desaparecer um
conjunto de órgãos para lugares nunca antes explorados. Levem um grupo de
mulheres a um striptease em que o stripper dispa a tanga e o
homem é apedrejado por atentado ao pudor, enquanto elas convulsam com arcadas
(ninguém quer ver aquela coisa a bambolear por aí livre). Mas, se ele saca de
um rolo de fita adesiva e faz a genitália desaparecer, até o viramos do avesso
para compreender onde foi aquilo parar. O mundo Drag gera-me tantas perguntas! Seriam
histórias dignas de ser contadas junto à lareira, a mulheres que tiram
apontamentos fervorosamente, sentadas de pernas cruzadas num tapete felpudo.
Poderia, finalmente, sair dos
cânones de nomes cliché e ter um nome artístico. A minha cabeça brame com um sem
fim de opções. Poderia ser algo com classe, como Estrelícia Davenport (a minha
definição de classe soa a nome de actriz porno Venezuelano dos anos 80 está
claro), descritivo como Luísa Marmota ou até artístico-bardajão como Candy Diaz.
Um nome com impacto, uma peruca de três cores e enchimentos a dar-me as curvas certas, e eu seria capaz
de dominar o mundo [ponto de reflexão: anos a ouvir marcas a anunciar push
ups diminutos, como a grande inovação, após a invenção do pão de forma, e
agora descubro que há todo um mercado de almofadados corporais que podiam
ter-me ajudado a fazer publicidade enganosa com muito mais engenho e cair sem
me esfolar toda? Sinto-me defraudada].
Ser Drag Queen é uma prova de poder de homens, que têm a arte de enxovalhar o sexo feminino em áreas que lhes são designadas à nascença pela sociedade. Não só o fazem, como o fazem melhor que muitas de nós e nos fazem reflectir, em como queríamos ser bonitas como o Osvaldo. Chega de patriarcado Drag, que eu também quero!
Melhor do que eu fazem-no certamente! É preciso ter talento, tiro-lhes o chapéu :)
ResponderEliminarE eu...xD
EliminarConhece a balada "O nome dela é Valdemar"?
ResponderEliminarVale a pena ouvir :)))
Vou tratar disso =P
EliminarLá isso é verdade, talento não falta!
ResponderEliminarTivesse eu um bocadinho dele e estava feliz xD
EliminarHaja criatividade, menina :D com fita adesiva ou sem ela... :))))
ResponderEliminarA única coisa que não preciso de toda esta história é de fita adesiva...o resto vinha a calhar =P
EliminarPois eu, preciso da fita, para me puxarem as mamunfas para cima 🥺
ResponderEliminarAo menos tens alguma coisa para puxar, deixa lá xD
Eliminarganhei um traumatismo a fita adesiva... devias colocar um aviso antes
ResponderEliminarDesculpa...não te queria traumatizar =P
Eliminaragora nã sei como vou fazer embrulhos de natal...
EliminarDeixas de dar prendas de natal...sai-te em conta! De nada =P
EliminarA garota de Copacabana é a versão drag da garota de Ipanema? ;)
ResponderEliminarAqui no ano passado houve um programa com drag queens ao estilo Germany's next top Model, igualmente orquestrado pela Heidi Klum. Era muito engraçado!
Olha que bem podia...mas não, é mesmo outra música, por outro cantor xD...mesma premissa da cachopa bonita, mas mais descritivo na parte da roupa e detalhes e tal...e também tem boa sonoridade (mas sem ser tão clássica claro está =P).
EliminarAqui há uma cultura bastante saudável e crescente do mundo drag...ia haver este mês um espectáculo do mesmo género aqui...do Rupaul Drag Race...mas como tudo...cancelado.
There it is true, talent is not lacking!
ResponderEliminaralready styled wigs
I would love to have a bunch of wigs and every day have a different hair colour and haircut...I would be a happy pumpkin =P
EliminarSão talentosas, sem dúvida!
ResponderEliminarSaltos altos? Não são a minha praia definitivamente ahahahah
Nem a minha...coisas rasteirinhas, como havaianas ou all star para a queda não ser grande xD
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