sábado, 28 de março de 2020

Adeus Restelo Até Depois

Anos de luta, de perseverança, por entre as mãos se escaparam num momento de fraqueza. Seria a incerteza de com o que nos presentaria? Seria orgulho frívolo? Ou apenas mero saudosismo? A dubiedade dos motivos era agora irrelevante, tudo havia sido em vão, e era, agora, mera vítima desta tormenta sobre a qual não tinha controlo.

Ontem foi o dia em que baixei as armas, e aqui me exponho perante vós, como mais um mero ser humano que se subscreveu à Netflix. Chamem-me velho do Restelo, mas eu era seguidora do culto do clube de vídeo, que me foi usurpado sem se preocuparem com as repercussões que isso teria na minha vida. Desde então, mantive-me na luta activa contra os monopólios da industria que surgiam uns atrás dos outros (excepto quando visito a minha rica mãezinha que tem os canais todos de cinema, clube de vídeo on demand, HBO, Netflix…e ai vejo para lhe fazer companhia, coitadinha, quem sou eu para lhe negar tal alegria). Porém, não há nada como uma boa pandemia mundial para mandar a baixo anos da mais nobre cata de websites piratas e serviços de streaming, disponíveis além-fronteiras. Como nos supermercados, devia ter sido criado um limite máximo de 10 pessoas de cada vez, mas não, todos precisamos desesperadamente saber como acabou o Masterchef de 2003, AGORA! Decidi, então, abdicar do entretenimento de ver uma série aos soluços (passando de 20 minutos a 65 minutos de duração), da antecipação que só aquela bolinha no centro do ecrã em continuo loop podia proporcionar e da alegria que o final de cada episódio proporcionava, como uma saudação outorgada à nossa perseverança.

Ouvia os rumores há anos de quão maquiavélico podia ser este serviço. Eu já o tinha usado algumas vezes em casas alheias, mas não experiencias a sua problemática devidamente até teres o ecrã a chamar-te pelo nome, a conhecer-te melhor que o tua família e a querer saber se ainda estás vivo, quando não reages durante meros segundos (importância acrescida quando sabes que o teu marido poderia passar por cima do teu cadáver durante três dias antes de se aperceber que não estavas a polir o chão com a testa). Isto coloca a Netflix no top 3 de relações amorosas mais saudáveis que eu já tive.

Eu, a transbordar classe, preciso de ligar o computador à televisão com um cabo HDMI para ver a bela da Netflix no ecrã, ligeiramente, maior que o do computador (os fortúnios de ter uma casa em que os antigos inquilinos decidiram levar meia parede e todos os cabos que nela residiam). Isto acrescenta o dilema de ter de me levantar para colocar a série em pausa quando preciso de ir à casa de banho ou decidir o que jantar (nesta casa pensar em comida não é me compatível com qualquer outra actividade). Uma pessoa descobre, rapidamente, que a Netflix não dá tempo de ponderar ou perguntar à pessoa a dois centímetros de nós se quer ver outro episódio. A Netflix não dá tempo, de nem em sprint, chegar ao computar a tempo de parar dito fluxo. A Netflix obriga-nos a lidar com o impasse moral de partir o computador ao arremessar o abajour, ou ficar no sofá para sempre, e adoptar a micose das extremidades como um estilo de vida. A Netflix, stressa-me!

Resumo, então, o de final do dia 1: Vi uma temporada inteira de uma série que não me interessava. Facto estabelecido aos cinco minutos de visualização. Porém, tive tempo de me acostumar ao má que era e de lhe ganhar carinho. Aproximadamente, sete horas da minha vida, investidas na premissa que levantar-me do sofá exigiria mais esforço que deixar-me sucumbir a morte cerebral.

Hoje irá melhor. Juro, solenemente, na eventual existência de mais de uma temporada, só tardarei uma delas em avaliar o quão má é, em proporção à minha força de vontade para erguer real traseiro deste sofá já deforme.

28 comentários:

  1. Ai, a Netflix, essa voz de diabinho sobre o nosso ombro ahahahah
    Confesso que continuo a resistir, mas acho que não consigo fazê-lo por muito mais tempo

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    1. Eu também fiz parte da orgulhosa resistência Andreia, mas acabou! E agora sinto o meu cérebro a derreter...passaram dois dias (também não ajuda esta brincadeira da fim de semana e quarentena, tivesse eu mais que fazer da vida não seria assim =P)

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    1. Podes mandar umas ideias de séries, são bem vindas!

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  3. Eu tenho... e na verdade praticamente não a uso.
    Mas os meus filhos..... são uns papa-séries....

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    1. Se tiveres um comando para a televisão o risco é menor, portanto volta e meia rouba a televisão dos filhotes =P

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  4. Eu também não tenho, mas com esta reclusão, começo a considerar aderir à Netflix. Para já ainda ando entretida com a televisão, mas é mais otempo em zapping que a ver efectivamente o que seja. No entanto, a tua descrição resolveu-me um problema teórico: Se me acontecer alguma coisa e morrer sozinha em casa, quem dará pela minha falta: A Netflix!!!! Estou quase convertida!😊

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    1. É uma sensação de segurança ter a Netflix apoquentada com o nosso bem estar =P
      Vale apena ter nem que seja por um mês para ver tudo o que queremos e depois cancela-se. Como eu não tenho televisão, isto ajuda =)

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  5. Mesmo tendo a netflix açambarcada posso recomendar-te:
    - La casa de Papel
    - After life
    - Sex Education
    - The witcher
    - Black Mirror
    ....

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    1. Boa, sugestões são sempre bem vindas!! Obrigado =)
      Algumas dessas estão começadas, Black Mirror é já um caso com alguns anos...vou ter que fazer um calendário para ver tudo =P

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  6. :))) este texto está o máximo e fez-me rir :)

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    1. O caminho é sempre o mais difícil, agora é preciso é paciência para me aturar =)
      Obrigado por ficar.

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  8. Ahahahah!
    Também 'aderi' à netflix há dias. Mas com a ideia de usar só aquela cena um mês, durante o período experimental grátis, claro.
    Vamos lá ver se consigo desapegar-me dela ao fim de 30 dias ou se me fica tão entranhada que terei de a guardar. E, pois bem, pagar por ela. ;D

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    1. Eu pensei em pagar um mês e cancelar...porque aqui os espertos retiraram isso do mês grátis porque o pessoal estava todo a aderir a pensar nisso.
      Injustiçaaaaa...
      Mas à velocidade que estou a ver as coisas acho que um mês vai ser tempo de sobra =P

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  9. A monstra cá de casa papa todas. Deve ver séries inteiras num dia só. Nada contra, não fosse ela gostar de julgar os gostos televisivos dos outros. Vê tudo. E tudo para ela é bom. Excepto se eu gostar, ehehe. PS: Vou continuar a resistir a esses ímpetos. Não quero ceder aos aproveitadores que, além de terminarem com o video-aluguer, acabaram com a possibilidade de gravar programas de televisão. Isso é um crime à liberdade. Abraço.

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    1. Nunca digas nunca, esta coisa da Netflix é um problema. Honestamente acho que depois de um mês estou farta, não tenho o potencial ai da monstra que papa todas, ainda tenho muito que aprender =P
      Obrigado pela visita!!

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  10. Continuo sem aderir à Netflix!!
    Mantenho-me forte.

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    1. Porque tens uma horta e podes cavar batatas...
      (é o equivalente no mundo das hortas a ter netflix)

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    2. E uma máquina de torrents sempre a bombar após uma recente adesão à fibra óptica! E consumo muito Youtube, confesso.
      Se quiseres a horta é tua. Troco facilmente por um apartamento. Eu sei, ninguém percebe porquê, ninguém me compreende (a não ser aquela colega da conversa do MSN).

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    3. Eu só aderi porque o streaming estava lentoooo e era mais uma barrinha de loading ou uma bolinha do centro do ecrã a carregar e eu saia de bazuca à rua.
      Eu compreendo porque deve ser chato para manter, mas agora não há nada para fazer (não não compreendo em como a horta é a expressão da tua solidão em dias ímpares, a tua colega é especial)

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    4. Porque há muita coisa na horta que eu desprezo! Por norma vêm a rastejar e têm maior expressão no Verão! Sou muito fã de apartamento, sobretudo do 7º andar para cima! É que lá, nem as moscas chegam... e eu odeio moscas.

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    5. Compreendo, também não sou fã. Igualmente que não sou fã de elevadores avariados, por isso fico-me pelo 2o ou 3o andar.
      P.S. Ninguém gosta de moscas

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    6. Já morei num quarto andar sem elevador, no dia das mudanças cheguei logo a uma conclusão: "Estes 77 degraus vão-me fazer bem à saúde!"

      Naquele tempo não havia gás canalizado e carregar as botijas era do melhor que podia haver (só que não).

      E o som? Quanto mais alta viveres mais fácil é isolar o som, pois o som que se transmite por vibração (o que numa cidade é muita coisa) tem mais dificuldade em atingir os andares cimeiros. Vai por mim, 7º andar para cima ;)

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    7. Vou ter isso em consideração para a minha próxima mudança...mas diga-se de passagem estou tão farta de mudar de casa...que ainda vai demorar um bocadinho (e onde vivo não há prédios tão altos...=P)

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    8. Daí a mudança de nome para "Países Baixos"! Se houvessem prédios altos seria "Países Baixos com Prédios Altos" o que era uma seca... :p

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    9. Foi exactamente com isso em mente que mudaram o nome (aí...aqui foi sempre o mesmo xD)

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