segunda-feira, 8 de junho de 2020

Jóia da Coroa

Almas puras, sem conhecimento de maldade, corrompidas por uma criança de índole maquiavélica. Dar nomes às coisas faz delas reais. Hoje em dia intitula-se de bullying a tudo e este uso em demasia faz com que as verdadeiras vítimas não sejam ouvidas. Uma criança usa o escorrega ao contrário e enterra a cabeça na lama, um petiz grita do baloiço: “otário”. Pumbas bullying! Não! O petiz à distância é um observador sagaz, tem um vocabulário de louvar para alguém de 6 anos e apenas constata um facto.

Há pessoas que realmente sofrem de bullying na sua infância ou adolescência, mas sejamos realistas, muitas vezes nem sabemos destes casos até ser demasiado tarde. A sua gravidade faz com que os jovens tendam a calar-se. Esta crónica (para parecer que tem classe), é dedicada a todos os pais excessivamente protectores, que se esquecem, que uma criança aprender a defender-se faz parte do seu desenvolvimento enquanto pessoa. Se protegemos sempre uma criança como se fosse uma jóia da coroa, vai achar-se a última coca-cola do deserto e, quando for grande, mais lhe vale que tenha uma boa herança e possa ficar em casa a fazer comentários de ódio no Youtube, porque não estará pronta para o mundo cão que há lá fora.

As vossas crianças podem ser lindas, ter os olhos do pai e o bigode da tia, mas não são especiais. Temos de proteger a nossa descendência de maneira inteligente, ensinar-lhes como viver em sociedade, defender-se e proteger-se. Criar um ser humano forte e não o tratar como o Dumbo (a menos que voe com as orelhas, nesse caso, acho bem que façam algum dinheiro da criança).

Vinde comigo fazer uma visita a um passado não muito distante (gosto de me convencer disso). De pequena, como a muitas crianças, chamaram-me nomes e havia um energúmeno mal-educado que me batia (hoje o pobre Luís Miguel ainda deve viver na cave da sua rica mãezinha e ser o orgulhoso proprietário de um dente na boca). Muitas foram as vezes que cheguei a casa a chorar. Com a orientação dos meus pais, aprendi a não ligar aos nomes e ignorar, pois sabia o meu valor e responder era alimentar esta prática. Até que se cansaram e as ofensas gratuitas acabaram. Funcionou! Mas o Luís Miguel, raio do puto levado da breca não desistia de me marcar com nódoas negras. A minha mãe falou com a professora, falou com a mãe da criatura, um dia parou o carro à frente do dito e mandou-lhe três berros (momento mais emocionante da minha vida!), mas o neurónio não lhe dava para tanto e o Luís Miguel não percebeu. Então um dia a minha mãe deu-me o aval de me defender e de se ele me batesse, eu tinha a sua bênção para lhe responder na mesma moeda. Que dia tão bonito esse. Ponhamos as coisas assim: foi o fim de uma era. Descobri que era bruta que nem uma porta.

A minha geração foi alimentada pela violência e estamos todos frescos que nem alfaces! As músicas de pátio tratavam de maltratar gatos com paus e a mítica música “Dominó”, falava de uma rua que cheirava a sangue porque alguém se tinha matado. [Já que falamos do assunto, se alguém souber por que raio ficávamos no “coito” para estar a salvo a jogar à apanhada, agradecia o esclarecimento]. Quando estava no ensino básico apareceram os Happy Tree Friends, que, para quem não sabe, eram animais amorosos que explodiam, lhes saltavam olhos e morriam de diversas formas sombrias e detalhadamente gráficas. Isto (não) ajudou (em nada) a vermos a morte como algo natural e divertido.

A realidade é que, actualmente, lidamos com as crianças como pequenas bolas de algodão, que se podem sujar se as pousamos em algum lado. Temos de criar futuras gerações fortes, porque os millennials são todos carne para canhão se há um apocalipse zombie. A geração dos nossos avós viu de tudo! Há alguns um bocado afanados das ideias, mas no geral são pessoas normais. Não tenham medo de expor as vossas crianças a este mundo fascinante.

18 comentários:

  1. Moral da Estória: "" Já não de "fabricam" homens e mulheres como antigamente, lol
    .
    Cumprimentos poéticos
    Uma semana feliz

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    1. Ainda se podem fabricar, mas a mão de obra não anda grande coisa =P
      Bom fim de semana

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  2. «Temos de proteger a nossa descendência de maneira inteligente, ensinar-lhes como viver em sociedade, defender-se e proteger-se. Criar um ser humano forte e não o tratar como o Dumbo», podemos colar em grande, para as pessoas compreenderem bem?
    As nossas crianças são mais resilientes do que a maioria pensa. Além disso, não são desprovidas de inteligência, podem é não ter todas as ferramentas para compreender, expressar e gerir determinadas situações. O que é perfeitamente normal, visto que ninguém nasce ensinado. Claro que não as vamos mandar para um campo de batalha, mas protegê-las numa redoma também não as ajudará a crescer.

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    1. Por mim podemos colar sim senhora..pouparia muita hora de conversa da chacha da minha parte! Faço das tuas minhas palavras, não é atirar com as crianças para o campo de batalha, mas é deixa-las viver! O que isso tenha de bom e mau.

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  3. Ui... isso do bullying tem tanto que se lhe diga!
    Na minha altura isso não existia e eu que bem passei mal com isso, ora por causa do apelido, ora porque era muito magra e tímida....
    Enfim... Eu também tive assim um dia na escola do meu filho! Deu-me cá umas ganas naquele dia!!

    Beijos e abraços.
    Sandra C.
    bluestrass.blogspot.com

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    1. Todos de alguma maneira passámos por isso. Foi divertido? Não...mas ganhámos força e criámos personalidade com isso.
      Imagino a vontade que te deu quando foi o teu pequeno...sobe sempre a mostarda ao nariz!

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  4. Há que saber gerir um meio termo, obviamente que nem a violência é benéfica, nem esconder-lhes o mundo o é.

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  5. Bullying é uma coisa muito modernaça.
    Na minha juventude, recente :)))), era mais tabefes.
    E não fez mal a ninguém.

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  6. Caríssima(o): Gostei imenso deste Post. Cheguei aqui após acabar de escrevinhar algo sobre este assunto (bullying) que me deixa muito apreensivo - fiquei a saber que "Rir também faz parte do bullying".
    Acho que todos devemos saber que há limites e transmitir esses limites à pequena, Mas, por amor de Deus... haja pelo menos bom-senso! https://panopliadenada.blogspot.com/logout?d=https://www.blogger.com/logout-redirect.g?blogID%3D2779764301274443029%26postID%3D7414809289246038949

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    1. Obrigado pela visita!
      Sem duvida, haja com senso e um meio termo em tudo. Mas rir faz parte de quase tudo, ajuda-nos por vezes a compreender temas dos quais nem sempre se fala por medo.
      Um bom fim de semana!

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  7. Um dos melhores textos, adorei e nao sei porquê revi me em algumas passagens 🤣🤣🤣

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  8. É isso. Temos de preparar as crianças para o mundo, não podemos escondê-las e deixá-las a viver num mundinho perfeito que não existe. É preciso que elas vão à rua e que aprendam a conviver, porque isso é sinónimo de aprendizagem.
    Como disse a Andreia, ninguém nasce ensinado, mas é a viver que aprendemos a gerir as nossas emoções, por isso :)

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    1. Eu ainda estou a aprender tanta coisa hoje em dia, imagino se não tivesse sido exposta a este mundo o choque que não teria sido a vida real.

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  9. Bullying é algo complexo, mas "Nem tanto ao mar, nem tanto à terra."

    Acho que tens razão.

    Bom fim de semana.

    Beijinhos

    ps: vamos ver se é desta que consigo publicar o comentário...

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